Falcão e o Soldado Invernal: A prova de que enredos clássicos podem se reinventar

“Falcão e o Soldado Invernal” (2021) é apenas a segunda produção da fase 4 do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU). Com estreia no Disney + em março, a série foca na jornada de Sam Wilson (Anthony Mackie) como sucessor do manto do Capitão América um mês depois dos eventos de “Vingadores: Ultimato” (2019). 

Escolhido pelo próprio Steve Rogers (Chris Evans), Sam deverá lidar com o fardo de carregar o escudo ao mesmo tempo em que um grupo de pessoas auto nomeadas “Apátridas”, quer fazer de tudo para que as coisas voltem a ser como eram antes do blip, nome dado ao desaparecimento das pessoas sumirem com o estalo do Thanos. 

Falcão e o Soldado Invernal: A prova de que enredos clássicos podem se reinventar | Quilombo Geek
Foto: Reprodução/Disney

Eu estava literalmente contando os dias para o lançamento de “Falcão e o Soldado Invernal” desde que anunciaram. O Sam é um personagem de quem gosto muito, devido ao desenho “Vingadores: Os heróis mais poderosos da Terra” (2010), quando finalmente o vi aparecer em “Capitão América e o Soldado Invernal” (2014), fiquei feliz. 

Poder vê-lo ganhando mais protagonismo no MCU me deixou realmente emocionada, porque quando ele foi introduzido como o “parceiro do Capitão América que tem asas e é menos poderoso”. Dando a impressão de que estava ali para um cumprir a cota negra do elenco. Então, vê-lo como protagonista encheu a minha alma, por saber que a relevância dele estaria sendo mostrada para as pessoas que só o conhecem de vista.  

Diferente de Steve Rogers, Sam não luta contra super-vilões nazistas, mas contra as injustiças sociais, pelos direitos da comunidade negra, dos imigrantes, das mulheres e da comunidade LGBTQIA. A transformação dele em Capitão América ressignifica o símbolo do escudo, que antes possuía um viés imperialista, agora passa a ter uma visão voltada para quem de fato precisa ser protegido. Mas, me adiantei demais na conversa, sigamos em frente. 

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Foto: Reprodução/Disney

A produção veio em um momento perfeito. Enquanto ainda estávamos tentando lidar com o vazio deixado por “WandaVisão” (2021), “Falcão e o Soldado Invernal” nos acalentava com belíssimas cenas de ação e uma parceria quase improvável entre Sam e Bucky Barnes (Sebastian Stan, o Soldado Invernal).  

Embora a química entre Steve e Bucky seja difícil de superar, a construção da amizade entre o Lobo Branco (novo codinome de Bucky) e o Falcão é bem feita na  série. Os dois vão do inferno ao céu, juntos eles aprendem a confiar e desenvolvem uma amizade mais profunda a cada episódio. É muito fofo ver como Barnes deseja que Sam carregue o manto de Rogers. 

Além disso, “Falcão e o Soldado Invernal” foi um verdadeiro consolo em quem estava com saudade dos filmes do MCU.  Ao contrário de “WandaVisão”, que resolveu apostar na experimentação e conseguiu um resultado incrível, a produção decidiu seguir uma receita já conhecida, mas com outros temperos que deixaram o sabor melhor ainda. 

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Foto: Reprodução/Disney

Com uma vibe meio “Capitão América e o Soldado Invernal”, creio eu que de forma proposital, dado o desfecho, a trama mistura tudo aquilo que gostamos em um filme de super-herói (coreografias de luta incríveis e a narrativa típica desse subgênero, na qual o personagem é chamado para uma aventura, nega a princípio, mas aceita o destino) jornada do herói) com questões sociais importantes e abordando o cotidiano. 

Afinal, às vezes esquecemos que alguns super-heróis também são seres humanos, portanto, são vulneráveis e passam por situações parecidas com as quais vivemos. “Homem Aranha 2” (2004) de Sam Raimi é um exemplo perfeito disso, quando Peter Parker (Tobey Maguire) vive devendo o aluguel e faz um verdadeiro malabarismo para dar conta das outras atividades do dia a dia, como a faculdade e a vida social. 

A mesma coisa acontece com Sam. Os feitos dele como um vingador não serviram para garantir um dinheiro extra e ajudar a irmã Sarah (Adepero Oduye) com os problemas financeiros.

Falcão e o Soldado Invernal: A prova de que enredos clássicos podem se reinventar | Quilombo Geek
Foto: Reprodução/Disney

É interessante o modo como a produção consegue explorar a vida pessoal de Wilson, trazendo seus conflitos internos e problemas familiares, sem se perder na história. O que facilita a conexão do espectador com o protagonista. E isso não se restringe ao Falcão, também conhecemos um pouco mais sobre Bucky e como ele ainda lida com as consequências de ter servido a Hydra como Soldado Invernal.  

O sucesso da série se deve a um enredo bem costurado e amarrado, sem espaço para as teorias confusa (Graças a Deus), que dialoga com a realidade e introduz gradualmente a essência da fase 4. E ainda nos presenteia com a promessa de um filme protagonizado por Sam: Capitão América 4. 

Heróis negros 

#alertadespoiler

Por mais que tenha odiado quando Sam resolve não ficar com escudo e permanecer apenas como Falcão, eu entendo a decisão dele. É sempre muito lindo quando as pessoas falam como representatividade é importante. No entanto, sempre deixamos de lado que é muito difícil para alguém não-branco ocupar o lugar de destaque, que tem sido negado a essas pessoas por tantos anos. 

Eu imagino que Sam se sentiu inapropriado para essa responsabilidade, talvez até incapaz. Por ele não ter o soro de super-soldado – erro feio do MCU -, Sam sabia que  aqueles que o colocariam em um pedestal seriam os primeiros a crucificá-lo no primeiro erro. É de julgar que até estariam torcendo para isso acontecer, então, para evitar o pior ele prefere desistir antes de tentar. 

Pelo menos, essa foi a minha interpretação, por já ter experimentado a velha  auto sabotagem.

Falcão e o Soldado Invernal: A prova de que enredos clássicos podem se reinventar | Quilombo Geek
Foto: Reprodução/Disney

Como abutres que observam um corpo definhar, os poderosos do governo dos Estados Unidos assistem calados ele abdicar do escudo e até elogiam o ato. Não esperam nem um dia para colocar um branco de caráter duvidoso no lugar. 

E chega a ser até irônico a forma como o novo Capitão América, John Walker (Wyatt Russell), reflete os EUA com suas atitudes. Ele é imperialista, finge ligar para as questões raciais (o parceiro dele é negro!) e defende a ideia de que os fins justificam os meios. Não preciso dizer o quanto ele é bem aceito, com direito a entrevista, fogos de artifício e apresentação em um estádio lotado. 

Chega a ser intrigante o modo como isso se liga com a história de Isaiah Bradley (Carl Lumbly) e Steve Rogers. Na série, Bradley foi forçado a ser cobaia de um novo soro super-soldado e vai lutar nos conflitos gerados pela Guerra Fria. Porém, ele não ganha o mesmo reconhecimento de Rogers. Afinal, Isaiah não era o herói que “representava” o Tio Sam. 

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Foto: Designe

Os encontros dele com o Sam são os momentos mais lindos da trama. Norteados de falas pesadas e relevantes de alguém que viveu muita coisa, ao mesmo tempo em que trazem esperança e fé de alguém que percebe a sociedade mudando e acredita ser preciso fazer mais. 

Vale destacar a introdução de Eli Bradley (Elijah Richardson), líder dos Jovens Vingadores, uma figura que aparece tímida, mas que tem a sua importância por ser um adolescente negro que carrega um legado importantíssimo. 

A verdadeira responsabilidade

Diferente de Steve Rogers, que foi criado para lutar na guerra, Sam Wilson tem outras prioridades. Para ele as coisas não são tão óbvias assim, como bem ilustra a série. O herói entende as complexidades presentes nas problemáticas sociais e até tenta resolver de formas que não apelem para o conflito direto. 

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