“WandaVision”, a série criada pela Disney+, baseada nos quadrinhos da Marvel Comics, chegou ao fim na última sexta-feira (5). Após aquecer nossos corações, nos fazer criar teorias e nos iludir muito. Por quase um mês e meio assistimos a pacata vida do casal Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany), que tentam ter uma vida normal (ou o mais próximo disso) na pequena WestView em Nova Jérsei.
A trama acontece após os eventos de “Vingadores: Ultimato” (2019), depois de metade da população da Terra voltar a vida com o blip. Wanda tenta lidar com o luto da morte de Visão, que perde a vida ao ter a joia da mente retirada por Thanos (Josh Broling) em “Vingadores: Guerra Infinita” (2018), criando um mundo perfeito para dois construírem sua família juntos.

Eu confesso que não estava com grandes expectativas para a série, mas isso é culpa do próprio Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), que me entregou filmes como “Homem de Ferro 3” em 2013 e “Thor” em 2011. Assim fica complicado se deixar iludir com um trailer, burburinhos e teorias malucas (que raramente se realizam, tá na hora de dar uma parada né, galera).
Porém, “WandaVision” veio para mostrar que o UCM está diferente e deixar muito nerd chato com raiva (risos). Em vez de apostar na narrativa épica típica dos filmes da Marvel, a produção inova ao trazer episódios no gênero sitcom logo no início, com direito a risadas e cenas em preto e branco.

O caminho distinto seguido pela trama não prejudicou em nada a história. A narrativa é bem desenvolvida ao longo dos episódios, deixando as pontas soltas necessárias para nos manter assistindo. Mesmo com a proposta de trazer uma década diferente em cada capítulo, a história não se perde em momento nenhum e preenche os buracos abertos anteriormente. Não todos, claro, ainda tem “Doutor Estranho: Multiverso da Loucura” para vir.
Apesar das mudanças, a trama não abre mão dos easter eggs que toda produção da Marvel tem que ter. São apresentados comerciais de produtos diversos nos episódios, embora eles tenham um propósito, você não precisa entender o significado para assistir a “WandaVision”.
Além disso, a série soube apresentar novos personagens e aproveitar os coadjuvantes que já figuraram em outros longas no UCM. Afinal, quem não se apegou ao trio ternura: Monica (Teyonah Parris), Darcy (Kat Dennings) e Jimmy Woo(Randall Park), que mostraram ser muito mais do que pensávamos. Não posso esquecer da fofoqueira da Agnes ou melhor Ágatha (Kathryn Hahn), que ao lado de Wanda, foi responsável pela fantasia presente na narrativa.

Louvores, honras e tudo o que há de bom ao elenco de “WandaVision”, especialmente Elizabeth Olsen, por se entregar de corpo e alma a uma protagonista tão maravilhosa como a Wanda Maximoff e fazer jus a ela. Finalmente pude ver a Feiticeira Escarlate em toda a grandiosidade que li nos quadrinhos.
Paul Bettany também me ganhou com seu jeitinho Visão de ser, cheio de piadas infames, cabelo esvoaçante e falas que me deixaram com muitas pulgas atrás da orelha.
As cores ajudaram a compor o tom da produção. Com uma paleta viva que trazia ao mesmo tempo a sensação de suspense e magia que fazem parte da narrativa. A cinematografia é uma das poucas coisas que a Marvel nunca erra, aqui ela soube usar os planos de forma certeira em cada cena.

“WandaVision” foi uma surpresa boa que soube chegar, fazer morada e sair – com muita classe, devo dizer. Apesar de ter deixado duas decepções: ter acabado tão cedo e ter me enganado com aquele Mercúrio (Evan Peters). Ainda assim, teve o grande feito de conquistar o público fora do nicho dos fãs de super-heróis.
A série não terá uma segunda temporada, como já antecipado pelos produtores. No início, a previsão eram dez episódios para a trama, contudo, devido a pandemia resolveram deixar apenas nove. As pontas soltas deixadas deverão ser tratadas em “Doutor Estranho: A loucura do Multiverso” e “Capitã Marvel 2”
O protagonismo feminino que queríamos

Existem muitos problemas quando falamos em representação feminina no universo dos super-heróis. Durante muito tempo, vimos personagens hipersexualizadas e servindo como chaveirinho dos “protagonistas” dessas histórias.
“WandaVision” faz um caminho inverso ao dos quadrinhos, quando traz não só o protagonismo de Wanda Maximoff, como de outras duas personagens, tão boas quanto a principal. Darcy Lewis (Kat Dennings) que havia aparecido em “Thor” (2011) como um simples alívio cômico, mas passa a ganhar mais espaço ao lado de Monica Rambeau (Teyonah Parris) – que nos deixou mais ansiosos para “Capitã Marvel 2”.
Quando falamos em narrativas para mulheres, as pessoas pensam que basta colocar uma figura feminina forte, um discurso qualquer sobre empoderamento e será o suficiente. Na verdade, o que queremos é não apenas ver, mas também nos sentirmos representadas. É pensar: “poxa, eu entendo porque ela fez isso.” De mulheres ideais, o mundo real já está cheio.