“Quantas vezes você já foi amado?” É a pergunta que aparece no meio do refrão da música “Sinto tanta raiva” de Baco Exú do Blues. A faixa é a primeira do álbum “QVVJFA”, sigla da frase que inicia esse artigo, lançado coincidentemente na quarta-feira, 26 de janeiro, data da festa do líder no Big Brother Brasil 22. Na ocasião, a sister Natália chorou ao ver Lucas beijando Eslovênia.

Antes de partir para a análise da situação e dizer as coincidências entre os dois acontecimentos, darei um contexto maiora você, caro leitor. Lucas e Natália se paqueravam há dias dentro da casa, tendo inclusive protagonizado uma cena na piscina digna de qualquer comédia romântica, onde o brother afirmou que a participante era o seu porto seguro. Era de se esperar depois disso que fosse rolar algo mais, mas não foi o que ocorreu.
Presenciar a cena foi demais para Natália, porque mesmo tendo apenas 22 anos, aquela não foi sua primeira rejeição. Quando você é uma mulher negra se acostuma a serpreterida desde cedo, seja por amigos, família ou um interesse romântico. Como afirma Baco em “Sinto tanta raiva”: “Tudo bem, sempre fui maltratado/Ter auto estima sendo como eu se tornou pecado”. O que piora a dor da participante é ser trocada por uma branca, por saber que se trata de um dilema de cor.
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É difícil para uma pessoa branca entender o peso das lágrimas de Natália, visto que não ocupam esse lugar de desprezo. Não foi surpresa para eu ler tuítes criticando ela ou a fala da sister Naiara Azevedo: “não dou conta de ver mulher chorando por macho”. A questão não é essa e nem sofrer por um feio, o buraco quando falamos sobre amor é mais embaixo.
Somos criadas como indignas de amor e afeto, vistas apenas como objeto sexual. A frase de Gilberto Freyre em “Casa Grande e Senzala” nunca foi tão atual: “Branca para casar, mulata para f*der e negra para trabalhar”. Nos submetemos a relacionamentos tóxicos, amizades problemáticas, porque na maioria das vezes não recebemos nem o básico como afeição e carinho.
Por isso, Baco não podia ter escolhido um dia melhor para lançar seu álbum. Foi coisa do destino, universo, Deus, os Orixás, chame do que quiser. É preciso que nós falemos sobre o nosso direito ao amor, não podemos apenas nos alimentar do ódio que o racismo nos causa. Bell Hooks afirma que: “A prática do amor é o antídoto mais poderoso contra as políticas de dominação”. As circunstâncias às quais somos moldados tornam o ato de amar quase impossível e sugam a nossa vulnerabilidade. Porém, é necessário lutar contra essa corrente.
Quanto a Natália, espero que ela entenda isso e siga em frente. Aprenda a dedicar o afeto dela a quem merece e aprenda a se amar.