Meilin Lee está entrando na fase da adolescência. No auge dos 13 anos, o que ela mais deseja é poder aproveitar a vida a seu modo. O que nem sempre é visto com bons olhos por sua mãe, que tenta controlar a menina o máximo possível para que ela seja perfeita. Mas, certo dia, a jovem se transforma em um panda vermelho. Ela descobre que isso acontece todas as vezes que fica nervosa, então, tenta se conter ao máximo para parecer uma garota normal. Essa é a história de “Red: Crescer é uma fera”, a mais nova animação da Pixar.
Acredito que, até agora, nenhum filme descreveu tanto a minha relação com a minha mãe, o que é um pouco assustador. Ao mesmo tempo é reconfortante saber que não sou sozinha nessa jornada de carregar o fardo de ser muito cobrada. Esse é um dos pontos mais fortes do filme: a identificação com mulheres que sofrem com a exigência de dar o melhor de si desde a infância. Algo que parte, na maioria das vezes, da própria mãe e é reforçado pela sociedade machista e racista, afinal estamos falando de uma personagem não-branca.

É interessante a forma como isso é trabalhado no roteiro, ao fugir completamente de uma narrativa clichê sobre crescimento e usando elementos da cultura chinesa. Sem perder a conexão com a realidade, surpreendendo o espectador e captando sua atenção, enquanto homenageia a herança asiática da protagonista.
Não é à toa que a ancestralidade é outro destaque dentro da produção. A animação traz o matriarcado para o foco, como norteador da família. Tudo é passado de mãe para filha, as tias são presentes. O pai de Meilin, por exemplo, quase não tem falas no longa-metragem. Essas relações são essenciais para o desfecho esperado. Inclusive, é notável o modo como elas são apresentadas na trama, deixando de apelar para o feminismo liberal ou comercial, mas sem excluir o tom feminista da história.

Além da representatividade asiática, a produção faz questão de colocar o mínimo de personagens brancos no elenco. Começando pelas amigas de Meilin, onde apenas uma é branca, até os figurantes que aparecem ao longo do enredo. Bom, espero que isso se torne comum em todo tipo de produto audiovisual, não acho que seja pedir demais em pleno 2022.

“Red: Crescer é uma fera” também traz nuances de um romance adolescente LGBTQIA+ paralelo à ação principal, somando mais um ponto no quesito representatividade. Contudo, não darei muitos detalhes, você terá de assistir para comprovar.
As referências aos anos 2000 com objetos como toca-discos, as boybands, os cds e a filmadora trazem uma nostalgia muita gostosa para quem cresceu nessa década; além de deixarem a narrativa mais leve e divertida. Fiquei até com a impressão de que a boyband do filme é uma mistura de vários grupos de rapazes famosos ao longo dos anos, como BTS, N’Sync, Backstreet Boys e outros.

O gráfico do desenho consegue passar as emoções de cada personagem de forma sensível e tocante, lembrando as técnicas usadas em animes e mangás. O que torna a narrativa mais intensa também.
“Red: Crescer é uma fera” é uma história sobre qualquer mulher que cresceu sendo cobrada demais para ser quem não era, vítima da obsessão do perfeccionismo, do policiamento de tom e das expectativas dos outros.