O tapa de Will Smith em Chris Rock, na cerimônia do 94º Oscar, no domingo passado (27), continua sendo um dos assuntos mais comentados na internet e na imprensa. Recentemente o ator anunciou a saída da Academia de Cinema e Arte em comunicado oficial, motivada pela agressão ao comediante.
Venho refletindo sobre o acontecido desde que vi Will chorando e se desculpando, no momento em que foi receber o prêmio de Melhor ator por “King Richard: Criando Campeãs”. Uma noite que deveria ser a razão da felicidade pela conquista há muito tempo almejada, se transformou em um evento incômodo, para não dizer trágico.

Dada a decisão dele de sair da Academia, a Netflix desistindo de produzir o filme “Fast and loose” e as possíveis punições que serão divulgadas somente em 18 de abril, resolvi escrever. Porque o decorrido também é sobre mim e todas as pessoas pretas que já cometeram erros, afinal somos humanos, e foram condenadas pela branquitude.
Não é à toa que escolhi para o título deste artigo, o verso do refrão da música “Múmias”, da banda Biquíni Cavadão. As pessoas adoram dizer que “errar é humano”, porém esquecem que a máxima só vale para homens brancos e héteros, na maioria das vezes. Quando nós, não-brancos, cometemos alguma falha, por menor que seja, somos rechaçados pela sociedade. Como se fosse o fim do mundo.

Com Will não foi diferente. Logo, surgiram críticos (brancos) falando que o artista estava errado pela atitude, que ele havia perdido a razão! Mas, onde estavam essas pessoas quando os casos de assédio sexual de Harvey Weinstein foram expostos? Ou na acusação de pedofilia de Woody Allen? Para citar algo mais recente: as acusações de que o ator Armie Hammer é canibal e estuprador?Calados, porque quando a denúncia é sobre a branquitude, eles se unem para defender uns aos outros e justificar suas atitudes dizendo que foi um “deslize” e que precisam aprender.
Mais do que um tapa, o artista defendeu a esposa, que já teve de aguentar diversas piadas de Rock. As emoções deveriam estar à flor da pele, somente Will sabe o quanto teve que sacrificar, lutar e quantos sapos teve que engolir para estar ali. Ele não foi nada mais do que humano. Contudo, esse é um aspecto que nos é negado, desde os nossos ancestrais que foram objetificados ao serem trazidos para as colônias nas Américas.

Nem vou entrar no mérito de Chris Rock. Um homem preto retinto, que viveu as dores do racismo e conseguiu crescer na vida, porém, é tão medíocre que não consegue respeitar suas irmãs de cor. O insulto a Jada Pinkett-Smith foi apenas mais uma das diversas vezes que ele ofendeu mulheres negras.
Inclusive, no documentário “Good hair”, produção inspirada pela falta de autoestima da filha dele em relação ao cabelo, o comediante não perdeu a oportunidade de ser machista. Em determinado momento, Chris decide ir a um salão para homens pretos, nos Estados Unidos, para conversar sobre essa questão do cabelo de mulheres pretas. Durante a conversa, ele e os homens acham de bom tom culpabilizar as mulheres pela baixa autoestima e a solidão da mulher negra. A Karol Gomes do @enfimkarol fala melhor sobre isso neste link aqui.
Enfim, o “príncipe de Bel-Air” que deveria ser lembrado pela conquista, ficará na memória por um erro, que não merecia tratamento tão exagerado.
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