A morte do ator Chadwick Boseman completou dois anos em 28 de agosto. Éramos surpreendidos com a notícia em 2020, quando descobriríamos que o artista lutava contra um câncer de cólon há 4 anos. O intérprete de Pantera Negra decidiu manter sua doença em segredo, enquanto seguia trabalhando normalmente.
O acontecido me deixou reflexiva sobre como nós (população negra), continuamente, nos deixamos de lado porque existem outras questões urgentes. No caso de Chadwick Boseman, era o legado poderoso de trazer uma narrativa protagonizada pelo líder de uma poderosa nação africana. Algo que foge dos estereótipos do cinema.

O diagnóstico de Boseman veio em 2016, período em que ele fazia a sua estreia no Universo Cinematográfico da Marvel, como príncipe T’Challa (Pantera Negra), no filme Guerra Civil. Conhecido por ser uma pessoa reservada, o astro preferiu deixar a informação somente entre familiares e amigos próximos. Ele estava no estágio 3 da doença, ou seja, o tumor estava maior ou crescendo em tecidos ou se espalhando para linfonodos próximos.
Essa questão já habitava a minha cabeça antes, ao observar a rotina da minha mãe e dos meus parentes. Sempre trabalhando, sem tempo para descanso ou para cuidar da saúde. Mas, a morte do ator acendeu um tipo de alarme na minha cabeça. Talvez, porque eu pensava que por ele ter condições, pudesse se dar algum luxo de ir com mais calma e se cuidar.
Foi onde me enganei. Apesar de ter 13 anos de carreira quando encarnou a realeza de Wakanda, foi esse papel que o deu mais notoriedade dentro da indústria. Ele não podia deixar de aproveitar aquela oportunidade por causa de uma doença, já havia sido difícil chegar ali. O artista tinha consciência do lugar que ocupava, de como isso reverberava (e ainda reverbera) na população preta.

Afinal, não é fácil para nós jovens, negres e talentoses realizarmos nossos sonhos. É preciso o triplo de suor e muitas vezes sacrifícios que a maioria dos branques não está minimamente disposta a fazer. Todo o dia saímos cedo, pegamos muitos ônibus ou vagões de metrôs lotados para chegarmos em nossos trabalhos. Um ambiente quase sempre embranquecido, onde mal somos valorizados.
Se descansamos, nos sentimos culpades. Porque parece que estamos sendo preguiçoses. Se reclamamos, estamos falando de barriga cheia. Nunca somos bons o suficiente, apesar de todo o esforço. Talvez essas questões tenham passado pela mente de Chadwick no momento que o médico recomendou repouso, não posso afirmar.

Por isso, decidi abordar essa pauta nesse editorial. Nosso corpo não é uma máquina, todos os dias ele dá sinais de que precisa de descanso. E se não acatamos, ele nos faz parar em algum momento. Seja com uma doença por exaustão que se cura com alguns dias de pausa ou uma enfermidade pior.
Em função disso, nós da equipe do Quilombo Geek precisamos de um intervalo após o especial de um ano (que se você não acompanhou, pode conferir a programação aqui) para respirar um pouco e organizar as leituras necessárias ao relatório. Agora somos um trabalho de conclusão de curso também.
Foi igualmente complicado chegar nessa decisão. Quando falamos em Cultura Pop e internet, logo surge uma FOMO (fear of missing out), ou seja, medo de ficar de fora dos acontecimentos e consequentemente perder seguidores, engajamento e métricas difíceis de serem alcançadas.

Entretanto, foi um período muito importante, para de fato pensarmos o que poderíamos melhorar aqui no blog, o que precisava ser retirado, o que estava funcionando e para que novas ideias surgissem. Além de fundamental, para de fato não fazermos nada e consumir Cultura Pop como as pessoas “normais” fazem (sem analisar coisa alguma).
O editorial de retorno não poderia falar de outra coisa. Ainda estamos com dúvida se é um bom momento para voltar, se iremos conseguir manter a frequência de postagens enquanto finalizamos o relatório. Porém, estávamos com saudade.
Estamos preparando muitas novidades para essa nova era que inicia, fiquem atentes. Agradecemos a todes que estão por aqui, mesmo durante esse hiatus. O Quilombo Geek está de volta!
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