“Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” (2022) conta a história de Evelyn Quan Wang (Michelle Yeoh), uma imigrante chinesa que deve salvar o multiverso, enquanto lida com o negócio falido da família e um casamento em ruínas.
Antes de começar a análise crítica, queria escurecer desde já que não curto filmes cult. Essas obras audiovisuais das quais poucas pessoas entendem as referências e os significados e por isso são consideradas a mais pura arte, merecedora de prêmios e todos os louros. Mas, para mim, não passa de um monte de bobajada elitista que só serve para limitar o acesso a arte a parte da sociedade que é mais responsável pelo enriquecimento da produção cultural: a periferia. Felizmente, esse não é o caso de “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” (2022).
A direção e roteiro de Daniel Kwan e Daniel Scheinert consegue realizar um filme inteligente, que nos deixa pensativos sobre a vida, contudo, sem apelar para recursos imagéticos que só especialistas em semiótica compreenderiam. O resultado é uma trama que nos prende do começo ao fim e desperta todo tipo de emoção: felicidade, tristeza, raiva e o que mais você sentir.

Para mim (acredito que tenho algum lugar de fala pela minha vivência de bailarina clássica), esse é o papel da arte: impactar. Comunicar diferentes coisas conforme a perspectiva de quem assiste, agradando ou não. Novamente, o longa-metragem, também estrelado pelo carismático Ke Huy Quan, cumpre esse papel.
Além do roteiro genial, que ao longo dos acontecimentos bizarros e a princípio sem muito sentido, como as cenas do universo das mãos de salsicha, costura as pontas e nos entrega a mensagem principal, até então escondida entre as linhas do multiverso, de forma eficaz. A fotografia ultrapassa o papel estético de dar somente beleza aos frames de cada cena e nos imerge de tal modo na história a ponto de nos fazer querer gritar, espernear e chorar com Evelyn diante dos dilemas apresentados.
Os figurinos e maquiagens altamente criativas de Jobu Tupaki (Stephanie Hsu) são outro destaque da produção, ao lado da performance de Hsu. Parecia que a personagem estava pedindo socorro, pelo menos tive essa impressão, através da maneira chamativa de se vestir e maquiar, em vez de querer causar realmente medo. Afinal, estamos falando da “vilã” do filme. Foi algo que só compreendi no final da obra.
O elenco de “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” (2022) é sem dúvida um dos melhores que já vi em cena nessa minha curta vida. Os diferentes talentos brilham sem se sobrepor ao outro, o que às vezes pode ser difícil quando se tem um grupo com tamanha qualidade que reúne, além dos já citados e premiados Yeoh (Melhor atriz – SAG Awards), Quan (Melhor ator coadjuvante – SAG Awards) e Hsu; Jamie Lee Curtis, James Hong, Jenny Slate e Harry Shum Jr. Não é à toa que ganharam a categoria de “Melhor elenco em filme” no SAG Awards deste ano.
“Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” é realmente tudo isso que estão falando. Se você não gostou da proposta é um direito seu, mas precisamos admitir que é uma das produções mais diferenciadas e incríveis de Hollywood, porque rompe com todas as já feitas até o momento. Porque usa um elemento da ficção científica – o multiverso – para falar de temas importantes para a sociedade, como a família, amor, xenofobia e LGBQTIAfobia, de forma criativa, sem se perder do foco da história.
É por isso que a obra está sendo indicada a 11 categorias no Oscar de 2023, dentre elas Melhor Filme, Melhor Atriz com Michelle Yeoh, Melhor Atriz Coadjuvante com indicações de Jamie Lee Curtis e Stephanie Hsu, Melhor Ator Coadjuvante com Ke Huy Quan. O longa ganhou quatro prêmios no SAG Awards, conforme já citado acima. Ficamos na torcida para que o efeito se repita no evento da academia que acontece neste 12 de março.
Você pode assistir “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” na Prime Video ou no cinema mais próximo.