As Marvels: Quem diria que juntar três mulheres incríveis em um filme seria uma ideia MARAVILHOSA?!

Carol Danvers (Brie Larson), Monica Rambeau (Teyonah Parris) e Kamala Khan (Iman Vellani) se veem conectadas após uma interação interdimensional estranha. Como se isso não fosse problema suficiente, as três devem impedir que os planetas do universo tenham os seus recursos roubados por Dar-Ben (Zawe Ashton), uma líder suprema dos Krees que pretende reconstruir Hala, terra natal desta raça alienígena. Essa é a premissa de “As Marvels” (2023)

É verdade que apesar da falta de divulgação da própria produtora do filme (sim, Marvel, a culpa é sua!), eu estou HYPADA para este filme desde o anúncio. A obra, dirigida por Nia da Costa, tinha uma grande responsabilidade em mãos: entregar um longa-metragem protagonizado por três mulheres e que fosse bom. Felizmente, a diretora alcançou esse resultado, mesmo com a impressão de que a Marvel não confiava tanto no trabalho da Nia [e mesmo ela sendo a diretora mais jovem do estúdio, já tem trabalhos incríveis no currículo como a “A lenda de Candyman” (2021)]

Apesar do estúdio ter podado a versão que originalmente deveria ter ido aos cinemas, que seria mais longa e com mais cenas musicais, a diretora conseguiu deixar a sua assinatura na obra. Portanto, entregou uma direção de muita qualidade, dando à trama um bom desempenho. 

As Marvels | Quilombo Geek
Foto: Reprodução/Disney/Marvel

A começar pelo roteiro, que mesmo em pouco tempo, conta uma história sensível, bonita, empoderada, porém, mais importante do que isso: traz mensagens socialmente relevantes nas entrelinhas (e não estou falando de feminismo). A narrativa, escrita também por Da Costa em conjunto com Megan McDonnell e Elissa Karasik, faz questionamentos interessantes sobre liberalismo e colonização, usando como metáfora tanto a situação dos Krees, que se acham no direito de invadir outros lugares para garantir sua sobrevivência, quanto os Skrulls que não têm mais um local para chamar de lar. 

Para quem faz parte de populações não-brancas e marginalizadas, são pontos que tocam e doem. Afinal, conhecemos bem o sentimento de não-pertencimento, não é? Além disso, a situação dos Skrulls me lembrou muito o conflito entre Israel e Palestina, não sei se foi proposital do roteiro; no entanto, a produção estreou num momento geopolítico interessante. 

As Marvels mostra protagonismo feminino em filme | Quilombo Geek
Foto: Reprodução/Disney/Marvel

Os alívios cômicos, habituais de filmes do Universo Cinematográfico da Marvel, são essenciais para tornar o enredo palatável e leve. Sem contar que a química das três personagens principais rendem muito entretenimento na medida em que dividem a tela. É realmente satisfatório vê-las lutando, compartilhando vulnerabilidades ou somente conversando amenidades. 

Por falar em nossas três mosqueteiras (perdoem o clichê), foi muito bacana o longa ter conseguido nos mostrar como a Monica (Teyonah Parris) se sentia em relação ao abandono de Carol (Brie Larson). A personagem de Teyonah demonstra chateação e dificuldade ao ter que lidar com alguém que tinha sumido de sua vida sem dar nenhuma explicação. Inclusive, isso foi uma situação com a qual eu, que sofri abandono parental, me identifiquei bastante. Te entendo tanto Capitã Rambeau.  

A admiração de Kamala (Iman Vellani) em relação à Capitã Marvel também é uma das partes positivas do filme. É incrível como Vellani consegue traduzir a empolgação da Miss Marvel com seus ídolos de forma tão semelhante a dos quadrinhos. Como nem tudo são flores, também vemos momentos em que Khan se vê em conflito interno quando vê sua ídola errando ou sendo grossa com ela, mas um ponto de empatia para as fãs girls que em algum momento se decepcionaram ao conhecer seus ídolos. 

Vilã Dar-Ben em As Marvels | Quilombo Geek
Foto: Reprodução/Disney/Marvel

O restante do elenco não fica atrás das três protagonistas e consegue deixar sua marca. Principalmente a família de Kamala Khan, que rouba a cena com seu jeitinho de ser. Algo semelhante ao que acontece em “Besouro Azul” (2023) da DC Comics, mas vale dizer que “Miss Marvel” (2022) trouxe essa ideia de incorporar a família do herói em suas aventuras primeiro. 

Nick Fury e sua equipe da S.A.B.R.E (que significa alguma coisa, porém, não anotei no momento do filme e sendo sincera, não é uma informação importante) se fazem presentes também como os responsáveis por alguns dos alívios cômicos. Além de protagonizarem uma das melhores cenas da obra, sem dar muitos spoilers, é basicamente o momento em que entendemos a linha tênue entre terror e comédia. 

Até Park Seo Joon, nosso querido príncipe Yan D’ Aladna, entrega uma performance musical divertida e bonita, ainda que apareça somente por 10 minutos junto ao povo de Aladna. O tempo de tela deles é tão pouco que a produção deixa em aberto o destino do planeta musical que, infelizmente, acaba invadido por Dar-Ben. 

Princípe Yan e Capitã Marvel | Quilombo Geek
Foto: Reprodução/Disney/Marvel

A trilha sonora da trama acompanha o tom que Da Costa quis transparecer para o público; consegue auxiliar na intensidade das cenas de luta, conferindo sensibilidade às cenas mais pesadas e ambientando a atmosfera de terror quando necessário. Assim como a cinematografia, que além de belíssima (algo novamente comum aos filmes do MCU), explora de modo adequado cada cena, imergindo cada vez mais ê espectadore na história. 

A fotografia, principalmente as das cenas de combate, dá dinamicidade e abusa de ângulos diversos para entregar o melhor resultado. Além de brincar com a divisão de quadros sempre que as três surgem em cena para lutar juntas, remetendo ao design das histórias em quadrinhos. 

A direção de arte também é outro ponto positivo, pois ao misturar quadrinhos nas cenas da Kamala, trouxe um tom de leveza. E seria legal se continuassem usando isso ao longo do filme. Mas, no geral, houve acerto na paleta de cores do filme, que é viva e bonita, conseguindo transparecer a personalidade de cada uma das três protagonistas. 

As Marvels | Quilombo Geek
Foto: Divulgação/Marvel/Disney

Antes de falar das poucas partes negativas do filme, preciso salientar que foi uma sacada inteligentíssima do roteiro de incorporar os vários nomes de heroína de Monica Rambeau (Capitã Marvel, Espectro e Fóton) ao longo da trama por meio dos questionamentos de Kamala (Iman Vellani). Explico melhor: a Miss Marvel (Kamala) passa a obra inteira sugerindo nomes de super-heroína para Monica. Qual ela escolhe? Bom, você terá que assistir para saber. 

Ok, vamos para o que de fato prejudicou o que poderia ter sido um longa INCRÍVEL e deixou apenas BOM. O primeiro ponto: pouco tempo; este filme definitivamente deveria ter 2 horas de duração. Foi muito gostoso assistir, mas fiquei pensando se as pessoas que não tinham assistido as séries da Marvel (“WandaVision “, “Miss Marvel” – 2021 e 2022) e a “Capitã Marvel” (2019) conseguiram se conectar com as três personagens como me conectei (e acredito que talvez não conseguiriam). Isso é um problema que afasta inclusive o público geral de consumir produções do UCM, principalmente quando são protagonizadas por mulheres. 

Outro tópico: a vilã. Por mais que Zawe Ashton tenha se esforçado e de fato tenha conseguido entregar uma atuação muito boa, foi uma das personagem que não consegui criar empatia. Não há tempo para desenvolvimento dela, nem mesmo para entendermos suas complexidades. 

Diferente de “Thor: Amor e Trovão” (2022), “ As Marvels” entrega qualidade, mesmo tendo sido podada e mesmo estreando nos 46 do segundo tempo da greve. Nia da Costa mostrou como tirar leite de pedra. Vale o preço do ingresso, porque é diversão garantida. 

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