“Duna – Parte 2” traz a ousadia de volta a ficção científica

Vivendo como um “fremen”, Paul (Timothée Chalamet) está determinado a ajudar  sua nova comunidade a ter o poder de volta em Arrakis. No entanto, a idolatria forçada por alguns fundamentalistas e pela própria mãe o farão desviar do objetivo original. “Duna – parte 2” explora a ascensão do personagem como novo líder dos “Fremen”. 

Estava sem muita expectativa para a sequência de “Duna” (2021) apesar das críticas boas e elogios que todes estavam fazendo em veículos de comunicação, redes sociais ou no boca a boca mesmo. Afinal, o primeiro filme dirigido por Denis Villeneuve também recebeu vários elogios e nem por isso deixou de ser cansativo de assistir e complexo de entender. 

Fremen em "Duna - Parte 2"
Foto: Warner Bros/Reprodução

Felizmente “Duna – parte 2” vai na contramão de seu antecessor. Com um enredo bem mais dinâmico, a trama é envolvente do início ao fim. Embora ainda se torne cansativa perto da conclusão – mas isso vamos discutir mais à frente – o longa-metragem não tem medo de dizer a que veio e só então, conseguimos compreender a jornada dos remanescentes da Casa Atreides e o que há por trás de seus desejos de estarem ao lado dos “fremen”. 

Com Paul (Timothée Chalamet) vivendo em meio aos “fremen”, conseguimos entender como aquela população se organiza, as diferentes ideias e linhas presentes, como em qualquer sociedade. Não é só porque são do mesmo povo que todos são iguais. Inclusive, todas as práticas e modos de ser desse grupo nos levam a compreensão de que foram pensados para representar muçulmanos, por mais que alguns fãs da saga de livros digam que é uma narrativa sobre fundamentalismo religioso, com medo de afirmarem que o autor Frank Herbert está falando sobre o Islã. 

Verme gigante em "Duna - Parte 2"
Foto: Warner Bros/Reprodução

É uma narrativa sobre como muçulmanos são oprimidos ao longo da história e sobre como o fundamentalismo se aproveita disso para se impor. E o roteiro de “Duna 2”, assinado pelo próprio diretor  Denis Villeneuve com co-autoria de Jon Spaihts e Craig Mazin, não tem medo de dizer isso não só nas entrelinhas, mas por meio de falas explícitas. 

Isso fica óbvio desde a mãe do próprio Paul, bem interpretada por Rebecca Ferguson, em como alguns fremen, os do sul, acreditam fielmente nesse fremen salvador, o “Lisan al Gaib”, e obviamente na própria organização das Casas que fazem de tudo para manter a ordem. Enquanto os fremen do norte, população a qual Chani (Zendaya) faz parte, são totalmente contrários a esse “messias” e só querem garantir o acesso ao básico do melhor modo possível. 

Inclusive, a atuação de Zendaya é algo que se destaca na sequência. Diferente do primeiro, onde só tivemos um vislumbre, o enredo nos mostra mais sobre quem é Chani, em como ela não é só uma forte guerreira, mas também sabe se impor, é estrategista e nasceu para ser uma líder nata. É muito bom ver uma mulher negra interpretando alguém assim dentro de um gênero onde nossa presença ainda é rara. 

Zendaya como Chani em "Duna - parte 2"
Foto: Warner Bros/Reprodução

Timothée Chalamet não fica atrás nos mostrando como o protagonista é complexo e não é nada como um mocinho de ficção científica. A personalidade dele é um Anakin (Star Wars) mais equilibrado, que sempre esconde uma carta manga e não entrega todos os movimentos. Ferguson também brilha como Bene Gesserit. Florence Pugh fica mais apagada, como a figura que interpreta pede, há uma névoa de mistério em torno dela. E Austin Butler tem êxito ao apresentar o moleque mimado com desejos assassinos Fey-Rautha, da Casa Harkonnen, algo que ele nos mostrou que faz bem desde “Elvis” (2022). 

Para além do discurso político, as cenas de ação do longa são as responsáveis pela dinamicidade e intensidade da trama. São coreografias de tirar o fôlego, que não entregam de cara o desfecho e nos fazem prender a respiração enquanto os personagens lutam entre si. 

Ainda assim, “Duna – Parte 2” conseguiu ser cansativo. Como a própria história exige momentos de contemplação do deserto, onde a cinematografia serviu belas paisagens, as paletas foram bem pensadas para dar a atmosfera correta a cada cena. Variando entre tons terrosos para momentos no deserto, cores claras e neutras nas cenas do imperador e o preto e branco incômodo que lembra o nazi-fascimo quando éramos levades a Casa Harkonnen. 

Casa Harkonnen
Foto: Warner Bros/Reprodução

No entanto, estética e técnica não são o suficiente para nos manter envolvides na história sem nem sentir o tempo passar. Nem sempre Villeneuve conseguiu usar a técnica a favor do enredo, por isso, me vi pensando quanto tempo faltava para o filme terminar nas últimas cenas quando parecia não ir para frente. 

E talvez penso que isso seja um mal de diretores brancos de países do Ocidente. Não sabem contar narrativas contemplativas de forma que permaneçam interessantes. Digo isso, porque consumo cinema sul-coreano, japonês e indiano, conhecidos por terem duração maior e serem mais parados. Como “Vidas Passadas” (2023), que mesmo tendo um ritmo mais lento, consegue prender a atenção da audiência sem nos deixar sentir o tempo passar. 

Mas enfim, vamos ter fé que nos próximos o querido Denis consiga aprender algo consumindo outros tipos de filme e traga isso para “Duna – parte 2”. Infelizmente acredito que o filme saiu de cartaz, mas se puder veja. A experiência é um pouco ruim fora do cinema, porém, vale a atenção.

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