O sonho de Ever Wong é se tornar uma bailarina e coreógrafa profissional. Mas os pais dela querem que ela se torne médica. Os dois migraram da China para os Estados Unidos quando jovens, encontrando diversos obstáculos no país do Tio Sam. Por isso, desejam que Ever e sua irmã caçula, Pearl, tenham uma vida melhor e com o mínimo de dificuldades possíveis.
Preocupados com o fato de que as duas estejam crescendo longe de sua cultura, decidem mandar sua primogênita para um acampamento educacional em Taipei, Taiwan, contra a vontade dela. Ao chegar lá, Ever encontra Ricky Woo, um garoto com quem sua família a comparou a vida toda e de quem ela sente raiva por isso. Além de Xavier Yeh, um bilionário misterioso que chama sua atenção.

A bailarina também descobre que o programa é, na verdade, visto como uma oportunidade de namoro e curtição pelos participantes, uma vez que estão longe dos pais. Então, ela decide aproveitar a chance dada pelo universo para fazer tudo que lhe é proibido, se sentindo livre pela primeira vez na vida. Mas, o verão é finito e logo menos a adolescente terá que lidar com o futuro que os pais planejaram para ela. Ou, talvez o contato com a liberdade a inspire a ter coragem para enfrentar seus pais.
Bem, “Férias em Taipei” foi uma boa surpresa. Conheci a obra pelo TikTok e logo me interessei, porque o livro traz protagonismo asiático, além de abordar aspectos de uma cultura pouco conhecida para mim. No entanto, pensei que se tratava somente de um livro de romance clichê, que não entregaria tanta profundidade e sem muitas reviravoltas. E tudo bem se fosse só isso.
As primeiras páginas, porém, nos dão um baque ao trazer os aspectos da vivência sino-estadunidense. A xenofobia que sofrem, os estereótipos muito presentes, a cobrança familiar – algo muito vivido por Ever e Ricky Woo – e o perfeccionismo. Pautas que não são muito retratadas no mainstream.

Os capítulos em geral são curtos, com uma escrita fluída e simples, Abigail Hing Wen nos prende em sua história. Tornando difícil a missão de ler somente algumas páginas por dia. A trama vai além de um romance de verão, com reviravoltas inesperadas que fogem dos desfechos comuns a comédias românticas.
Outras cenas que enriquecem a narrativa são as que Ever descreve as ideias para coreografias que surgem em sua mente quando ela vai em um lugar que a inspira muito. A relação dela com a arte é retratada de forma muito poética pela autora, deliciando nossa imaginação com o talento da protagonista. Apesar de ser uma perspectiva quase romantizada, por não abordar os lados negativos da dança, entendo que essa foi uma escolha feita por Abigail e nem sempre precisamos focar só nas dores.
Para mim, como uma mulher negra que estudou balé por 16 anos e viveu muitos traumas nessa atividade, foi um verdadeiro respiro vislumbrar esse ponto de vista. E o mais interessante é como esse amor pela dança aproxima a protagonista de sua própria cultura, algo com que ela até então, não conseguia se identificar.

Dados sobre a população indígena de Taiwan também dão mais qualidade a trama, algo que Abigail não precisava necessariamente trazer na história, mas que bom que ela fala sobre isso. A escritora fala um pouco da origem da nação e chama atenção sobre como aqueles povos são tratados no país que fundaram, e onde, coincidentemente, são minoria (parece com o Brasil, né). Inclusive, Abigail tem a preocupação de trazer uma personagem indígena para o núcleo principal e aprofundar ela, sem focar somente em suas dores.
O desenvolvimento dos personagens é um aspecto digno de elogios. Não só de Ever, mas de Ricky, Sophie, amiga de Ever, e Xavier. Ao longo da narrativa, eles erram, agem de forma impulsiva e até condenável em certas situações. Todes são muito humanes, fáceis de criar empatia, complexos e insuportáveis, afinal são adolescentes.

“Férias em Taipei” é uma boa leitura se você está passando por uma ressaca literária, porque aborda questões pesadas, mas sem deixar de entregar um romance leve. Consegue equilibrar o que propõe em boas dosagens.
A obra já tem uma adaptação sendo produzida, porém, sem data de estreia ainda. Além de possuir uma sequência, “De Volta a Taipei”, protagonizada por Sophie e Xavier.
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Um comentário sobre “Férias em Taipei é um clichê que aborda questões sociais sem perder a leveza”