“Shang-Chi e a lenda dos dez anéis” (2021) conta a história do jovem chinês Shang-Chi, treinado pelo próprio pai para ser um assassino. Insatisfeito com a filosofia de vida do seu progenitor, o rapaz foge para os Estados Unidos. Mas, dez anos depois é localizado pelo pai que o recruta para uma nova missão.
A trama se destaca dos outros longas-metragens do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), ao trazer um protagonismo asiático para o mainstream fora do olhar imperialista estadunidense. Um feito quase impossível em Hollywood, quando temos as mesmas pessoas brancas à frente dos filmes famosos.

A partir desse ponto, “Shang-Chi e a lenda dos dez anéis” se diferencia, porque tem a preocupação de trazer pessoas com ascendência chinesa para escrever e dirigir a produção. Afinal, para contar histórias sob perspectivas distintas das quais estamos acostumades, é preciso movimentar a estrutura antes.
Essa mudança de ângulo é percebida em toda a narrativa, que reinventa um herói criado de forma estereotipada nas histórias em quadrinhos e exalta a cultura chinesa do começo ao fim em vários aspectos.

Seja nas cenas de ação com lutas corpo a corpo, que nos lembram as célebres produções de artes marciais de Bruce Lee e Jet Li, famosas nos anos 1970. Ou com as criaturas místicas que fazem parte da mitologia chinesa, como a raposa de nove caudas Huli Jing e o fofo Dijiang.
Além da preocupação em escalar atores e atrizes sino-diaspóricos para quase todo o elenco, como fizeram em “Pantera Negra” (2018) com atores afrodescendentes.
Simu Liu, o nosso Shang-Chi, trouxe qualidade para o papel com um protagonista sensível e carismático, apesar do passado sombrio. A parceria – não necessariamente romântica – entre ele e Awkwafina (Katy) é um dos elementos da história que nos conquista.

O roteiro conciso e coerente ainda abre espaço para um alívio cômico, ao se aproveitar do erro cometido em “Homem de Ferro 3” (2013) com o falso Mandarim, que havia gerado repulsa nos fãs da Marvel na época.
A ancestralidade é tema central da trama, com um diálogo interessante sobre a forma como absorvemos a herança de nossos pais (boa ou ruim), e usamos para moldar a nossa própria personalidade.
“Shang-Chi e a lenda dos dez anéis” é o primeiro filme da Marvel a ser lançado exclusivamente nos cinemas durante a pandemia de covid-19. O novo herói chegou bem na firma, arrecadando R$ 660 milhões apenas na estreia mundial.
Eu confesso que não estava com grandes expectativas para a produção, desde o anúncio na Comic Con de 2019. Mas, foi definitivamente uma surpresa boa.
Ainda não há previsão para a chegada do filme no Disney +.
Créditos imagem destaque: Nicolas Tetreault-Abel