“Kindred: laços de sangue” é uma jornada de autoconhecimento dolorosa

Dana estava arrumando os livros em uma das estantes da casa nova, quando sentiu uma forte tontura. A mulher, de repente, já não está mais na sala de estar de sua residência, mas em outra época. 

Esse é o ponto de partida de “Kindred: laços de sangue”, uma história de ficção científica sobre viagem no tempo diferente de todas as narrativas que conhecemos do gênero. A obra estabelece uma relação com o passado que quebra com os padrões românticos, pois, retornar às origens pode ser doloroso para uma pessoa não branca. A nossa história é marcada por muita violência a nossos ancestrais e Dana passa a vivenciar isso na pele. 

“Kindred: laços de sangue” é uma jornada de autoconhecimento dolorosa
foto: Eduarda Porfírio

O relato fica mais intenso e real na escrita intimista de Octavia E.Butler. A narrativa é tão imersiva que parece que estamos ali com a personagem, enfrentando as mesmas opressões de ser uma mulher negra em 1800 em Maryland, nos Estados Unidos. 

Apesar de ser uma trama difícil de digerir, principalmente se você for uma pessoa prete, a autora nos instiga a continuar a busca pelo desfecho a cada capítulo. 

Além disso, a ancestralidade ganha uma outra perspectiva sob o olhar de Butler. A escritora nos faz questionar o endeusamento de nossos antepassados, nos fazendo encará-los apenas como parte da nossa história. Não como alguém que precisa ser bom ou ruim, porém, que precisamos aprender a lidar para nos conhecermos melhor. 

Kindred: Laços de sangue | Quilombo Geek
Foto: Eduarda Porfírio

“Kindred: laços de sangue” é uma leitura necessária e forte, porque é extremamente humanizada. Octavia nos mostra como o ser humano é complexo através de seus personagens, gerando identificação especialmente com as mulheres negras presentes no livro.

A obra é também uma aula introdutória sobre relações raciais e branquitude, nos mostrando por meio das personalidades brancas como somos vistos por elas, principalmente, pelo olhar do homem branco. 

Kindred: Laços de sangue | Quilombo Geek
Foto: Eduarda Porfírio

Dizem que Octavia E.Butler era uma mulher à frente do seu tempo, por causa de seus livros. No entanto, para mim, a escrita dela foi apropriada à sua época. “Kindred” foi lançado em 1979, pouco mais de dez anos após a conquista dos Direitos Civis e fim da segregação racial nos EUA. Ser negro nesse país ainda era difícil, mesmo com todas essas conquistas e Octavia nos explica o porquê disso em sua obra.  

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