Stephen Strange (Bennedict Cumberbatch) deve proteger a adolescente America Chavez (Xochtl Gomez) de um demônio que a persegue, em “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”(2021). A garota tem a habilidade de viajar entre dimensões e por isso a criatura deseja tomar o poder de Chavez para si, fazendo com que a existência do multiverso seja comprometida. Ao lado do vingador, a nova heroína viajará entre diferentes realidades para deter o monstro.
Baseado nos quadrinhos da Marvel Comics, o filme é objetivo ao contar a história principal. Vai direto ao ponto, iniciando já com a ação. Nos primeiros trinta minutos temos uma ideia de qual será o desfecho, o que nesse caso não é algo tão negativo se você foi para o cinema sem muitas expectativas. Como a narrativa vai se desenrolar, se relacionando com eventos das HQs e das outras produções do Universo Cinematográfico da Marvel é o destaque do longa-metragem.

Estava preocupada sobre como os roteiristas Jade Barlett e Michael Waldron combinariam multiverso com personagens extras, sem sobrepor o protagonista. Porque da mesma forma que poderia ser incrível, como foi com “Homem-Aranha: Sem volta para casa” (2021), o resultado poderia ser desastroso. Afinal, não adiantaria encher a trama com fan-service se ela não fosse capaz de contar uma boa história.
Infelizmente é o que acontece em “Dr. Estranho no Multiverso da Loucura”. Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) rouba a cena com sua vilania megalomaníaca, deixando Strange como coadjuvante da própria produção. Talvez seria mais inteligente fazer uma segunda temporada “WandaVision”(2021) do que transformá-la em vilã.

Apesar do roteiro cumprir o básico e ser capaz de abordar o multiverso de forma compreensível, ele não tem bons diálogos, nem consegue desenvolver os arcos que propõe além da história principal. Com exceção da America Chavez, que acredito que aparecerá mais no MCU futuramente, a sensação é que personagens e situações são jogadas, mas não aprofundadas. Um exemplo disso foi a presença do grupo Illuminati, que não teve relevância para o andamento e desfecho do longa.
Então, a trama acaba se perdendo no meio disso. Se não havia tempo para trabalhar as outras figuras que surgem, o mais sábio seria não colocá-las no filme. Aquela velha história do menos é mais, sabe?
Inclusive, o script não sabe aproveitar o elenco que tem. O grupo é ótimo, Benedict Cumberbatch é o próprio Stephen Strange, Elizabeth Olsen se destaca pela magnitude da personagem, mas entrega uma atuação ok. A performance dela me lembrou muito a Malévola, interpretada por Angelina Jolie no filme de mesmo nome em 2014. Talvez pela elegância e por ser a vilã clichê, que defende que os fins justificam os meios. Ela se aproxima mais da Feiticeira Escarlate das HQs, mas ainda assim, acho que faltou um pouco mais de manipulação e menos megalomanias para que se tornasse de fato a personagem. Já Xochtl Gomez tem muitos trejeitos típicos de quem faz série de comédia infanto-juvenil, mas é importante lembrar que ela vem desse contexto. Porém, a jovem conseguiu me encantar como America e realmente espero que ela consiga desenvolver melhor essa personagem.

Outro ponto negativo para mim foi o tom de terror. Até certo momento funcionou, como na cena da dimensão espelhada, contudo, ficou forçado em outras situações. Por exemplo, no episódio do corredor, em que eles ficam literalmente esperando a Wanda passar pela porta para conseguirem fugir. Parecia um filme de terror ruim dos anos 2000.
Agora, trazer o teor macabro foi essencial para entendermos mais sobre as identidades tanto do Dr.Estranho quanto da Feiticeira Escarlate. Sam Raimi, o diretor, soube como fazer isso muito bem através das cenas de ação e das mortes sanguinolentas. Além da cinematografia da produção feita por John Mathieson, que brinca com diferentes ângulos, planos fechados e câmeras agitadas que não só auxiliam na imersão, como ajudam no caráter caótico da história. O ataque dos demônios e a batalha musical são prova disso, pois são os dois momentos de beleza da película.

“Dr. Estranho no Multiverso da Loucura” é um filme passagem, existe um desenvolvimento do protagonista, embora, entretanto, só é perceptível com primeira cena pós-crédito, o que vejo como problemático. O enredo principal poderia ter mais tempo para realizar essa progressão ou aproveitar as duas horas que teve nisso.
Há uma quebra de expectativa em relação ao trailer e aos rumores, o que é interessante. Eu, por exemplo, estava esperando algo mais puxado para o que acontece na animação “What If”(2021), quando o Dr. Estranho se transforma no vilão da trama. Além disso, não deixa de ser um autêntico filme de super-herói, com a jornada do herói onde o protagonista quer provar a todo momento que ele merece o título que tem.